A primeira foi a internet mais simples de todas, a Web 1.0, concebida por Tim Berners-Lee, em 1989, e desenvolvida ao longo de mais de uma década. Nessa versão da World Wide Web, a internet servia para compartilhar informações técnicas online e conectá-las por meio de hiperlinks — o que persiste, por exemplo, para sites de notícias que trazem links em reportagens para outros conteúdos relacionados. Nessa época, a internet ainda era exclusividade de poucas pessoas, a conexão era lenta e os computadores tinham desempenho consideravelmente limitado em relação ao que temos hoje. Por isso, as informações eram publicadas de forma descentralizada,
Já a Web 2.0 foi marcada pelo desenvolvimento de plataformas digitais que permitiam o conteúdo gerado por usuários. O exemplo mais claro desse movimento foi a criação das redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook, e do YouTube, que permitiu a publicação de vídeos por qualquer pessoa. Ou seja, a Web 2.0, termo cunhado pela escritora Darcy DiNucci e popularizado pelo especialista Tim O’Rilley, veio para mudar completamente a maneira de usar a internet, dando voz a bilhões de pessoas. Foi nessa era da web que vimos a ascensão da maioria dos serviços digitais que temos hoje, do Spotify ao Uber…. –
A Web 2.0 levou os serviços digitais a servidores de grandes empresas, como Amazon, Microsoft, Google e IBM. Além disso, houve a criação de empresas de tecnologia tão grandes que podem até mesmo “monopolizar” sua atenção com algoritmos sofisticados de recomendação de conteúdo e inibir a competição de rivais, como é o caso do Facebook (Meta) e do Google (Alphabet) — duas big techs que simbolizam bem as possibilidades oferecidas pela web 2.0. … –
Agora, a resposta para a pergunta de um bilhão de dólares: O que é a web3? A web3 é uma proposta de unir o melhor dos dois mundos online anteriores: a descentralização e os conteúdos gerados por usuários, e ainda adicionar a tudo isso o registro distribuído, em blockchain….Se você não sabe o que é blockchain, a maneira mais fácil de entender é com a analogia a um livro contábil, no qual tudo é anotado de forma imutável. Cada um dos blocos, chamados de registros, que são adicionados à blockchain, se ligam ao anterior, formando uma corrente. Tudo isso tem a tecnologia chamada de criptografia, uma codificação tão complexa que não pode ser quebrada mesmo pelos computadores mais avançados do mundo. Blockchain é o elo que conecta a web3 aos entusiastas de criptomoedas. A descentralização das finanças se dá ao relegar à blockchain o armazenamento de informações, sejam elas financeiras ou de outra natureza.As transações são processadas por computadores do mundo todo, e não de uma só empresa ou entidade pública. Com isso, não é necessário que haja um órgão regulador, como um Banco Central, para garantir que as transações sejam fidedignas e livres de duplicidade ou fraude. Ou seja, blockchain e criptomoedas, em especial o bitcoin, estão ligadas por um elo inseparável. Além de resolver problemas que são tema de debate público no Brasil e no mundo, como a questão do vício gerado por algoritmos de recomendação de conteúdo de redes sociais e a moderação de posts em plataformas digitais, a web3 também se propõe a resolver a questão dos direitos de propriedade na internet. Com isso, existirão empresas em um formato descentralizado, que vêm sendo chamadas de Descentralized Autonomous Organizations (DAOs), ou Organizações Autônomas Descentralizadas. A ideia é que esse formato permita a oferta de poderes de decisão mais igualitários entre todos os usuários de serviços digitais, e a questão da propriedade é resolvida com tokens únicos. Esse tipo de empresa já existe hoje mesmo….
Um exemplo é a Augur, uma plataforma de apostas em esportes, economia e eventos mundiais. A empresa se descreve como um conjunto de contratos inteligentes escritos que podem ser implantados no blockchain ethereum — ligado à segunda criptomoeda mais valiosa dos últimos anos. A companhia não tem “capacidade de atualização, capacidade de modificação ou governança sobre o conjunto de contratos e software executado e existente no blockchain ethereum”,
A web3 está ligada ao metaverso, como é chamada a versão tridimensional e virtual da internet — a exemplo da realidade virtual vista em óculos especiais, como os Oculus Rift. O entusiasmo em relação ao metaverso é tão grande entre as empresas de tecnologia que o Facebook mudou seu nome para Meta alegando relação com esse universo digital compartilhado que deve ser o lar da internet do futuro dentro de alguns anos…. -O próprio presidente executivo da Meta, Mark Zuckerberg, parece reconhecer que a natureza do metaverso será descentralizada, como na web3. Em uma carta pública divulgada em outubro do ano passado, o bilionário afirmou que o metaverso não será criado por uma única empresa e que ele estabelecerá “uma economia criativa muito maior do que aquela limitada pelas plataformas de hoje e suas políticas”. Já existem até relatos de vagas de emprego dedicadas ao trabalho na web3….
Ou seja, já existe um movimento das grandes empresas de tecnologia adentrando a web3, o que pode ser, ao mesmo tempo, um entusiasmo que se justifica comercial e socialmente e uma tentativa de manter a dominância que essas companhias detêm na era da Web 2.0. Em todo caso, a web3 abre caminho para o desenvolvimento de todo tipo de serviço digital, tanto para novos quanto para os que já existem hoje em formato centralizado.